sábado, 6 de julho de 2013
2001 a 2010 - Uma década se vai. O que esperar da próxima? - Pr Carlos Queiroz
Acredito nas transformações políticas, econômicas e sociais que possam beneficiar os países pobres do mundo.
Fechamos a primeira década do terceiro milênio! Foram dez anos de fatos marcantes, grandes catástrofes, mudanças políticas, sobressaltos econômicos, conquistas esportivas, crimes hediondos. Enfim, uma década com tudo de bom e de ruim que o gênero humano pode produzir – com a diferença de que, neste decênio, a natureza mostrou-se assustadora como nunca. Quem não se lembra, por exemplo, do tsunami de 2004, a maior catástrofe natural da História, com suas quase 300 mil vítimas fatais? Ou do terremoto no Haiti, em 12 de janeiro de 2010, que arrasou um país já miserável e ceifou perto de 250 mil vidas? Isso, sem falar em furacões devastadores, nas grandes secas e nas inundações ao redor do planeta, inclusive vários episódios aqui no Brasil.
Por falar no país do futebol, celebramos a conquista da Copa do Mundo de 2002 , mas lamentamos as duas patéticas derrotas em 2006 e 2010. Organizamos uma edição dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, em 2007, e conquistamos o direito de sediar o Mundial de Futebol em 2014. Mas o mesmo Rio de Janeiro que será sede olímpica em 2016 passou dez anos às voltas com a violência urbana, cuja face mais sinistra foi o assassinato do menino João Hélio, de 6 anos, arrastado até a morte pelas ruas em fevereiro de 2007, quando bandidos roubaram o carro de sua mãe. Foi uma década mortes, muitas mortes – crimes de repercussão, como o assassinato da garota Isabella Nardoni, atirada pela janela pelo próprio pai em 2008, em São Paulo, ou brutalidades anônimas que vitimaram gente sem nome: execução de mendigos, chacinas na periferia das metrópoles, crianças barbarizadas por pedófilos.
Tivemos, nesta década, cerca de quatrocentos mil brasileiros assassinados. A criminalidade é chaga social longe de ser curada, ou ao menos, tratada com eficiência. No campo religioso, o mundo assistiu a conflitos desencadeados em nome de Deus – o tão falado choque de civilizações que promoveu o 11 de Setembro de 2011 desencadeou sangrentas guerras contra o terror no Afeganistão e no Iraque. A Igreja Católica mudou de comando em 2005, mas a substituição do papa João Paulo II pelo alemão Joseph Ratzinger, ou Bento XVI, em 2005, pouco interferiu nos rumos do catolicismo, cada vez mais exclusivista e unilateral. Já a Igreja Evangélica cresceu muito, sobretudo no Terceiro Mundo. Em determinados contextos, como o brasileiro, foi um crescimento questionável, em que o avanço numérico se fez à custa não apenas da pregação da Palavra, mas de práticas descabidas de manipulação e exploração de fiéis.
Nos últimos dez anos, presenciamos o acirramento da militância e da concorrência religiosa. Os símbolos religiosos passaram a ocupar espaços, como se os bens públicos fossem também oficialmente propriedades da religião hegemônica. Em vez de engajamento e luta pela formação ética da nação, e transformações conjunturais e sociais que beneficiem a todos, os principais segmentos cristãos se prestaram mais à fidelização de devotos enclausurados aos interesses internos de suas indústrias da fé.
Nesta década, nós, brasileiros, experimentamos também um processo de consolidação política e econômica. A democracia desenvolveu-se a ponto de levar o primeiro proletário à Presidência da República, em 2002. Oito anos depois, Luiz Inácio Lula da Silva saiu do Planalto saboreando índices de popularidade inéditos, deixando como sucessora a primeira mulher a governar o país. O tão propalado “país do futuro” ganhou autoestima, baseada na estabilização da moeda e nos bons índices de crescimento, mesmo em meio a revezes internacionais, como a grande crise mundial de 2008. Ainda há muita tarefa pela frente, especialmente no que diz respeito aos direitos e democratização da economia. A reforma tributária poderá garantir mais sustentabilidade para a vida, se incorporar, por exemplo, mecanismos que garantam mais participação dos pobres, dos pequenos produtores, dos trabalhadores informais.
Diante disso, o que esperar para a década que acaba de começar? Acredito nas transformações políticas, econômicas e sociais que possam beneficiar os países pobres do mundo. Espero o esvaziamento das religiões e templos que foram reduzidos a meras instituições arrecadadoras de fundos. Peço a Deus que nos ajude a encontrar soluções para salvar nosso planeta. E, falando como todo brasileiro torcedor, sonho, claro, com vitórias em Copas do Mundo e medalhas olímpicas. Mas que estejamos realmente engajados não em uma corrente pra frente em busca de gols, mas num grande movimento para o cumprimento das metas do milênio.
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